GERALDO DE BARROS


A biografia de Geraldo de Barros é exemplar daqueles artistas que compõem a história do modernismo no Brasil, particularmente, no capítulo dedicado a artistas comprometidos com a experimentação e a inovação em diferentes linguagens visuais. No contexto desse capítulo, Geraldo de Barros se alinha com aquele grupo que, coerente com suas convicções políticas, acredita na função social do artista, fundando e atuando, ao longo dos anos, diferentes movimentos, grupos e associações. Ao afirmar "... eu faço um trabalho de composição independente do que eu escolhi como assunto, no qual o único guia é o ritmo, o contraponto, a harmonia plástica...", Geraldo de Barros descrevia suas fotografias referindo-se, porém, à sua concepção artística. A consciência de que dentro do espaço plano de uma folha de papel ou de uma tela o que importa é apresentar as relações das formas delineadas é típica do modernismo. O desenho não representa, é uma idéia visível. Essa postura baseia-se na Teoria da Gestalt, com a qual entrou em contato através do teórico Mário Pedrosa. Já pode, porém, ser observada em seus desenhos a partir de 47.

No âmbito social acreditava que cabe ao artista educar o gosto das massas utilizando-se para tanto do desenho industrial e suas diversas aplicações, como artes gráficas e design de móveis. Coerentemente, foi um dos fundadores - em 1954 - da comunidade de Trabalho Unilabor, cooperativa produtora de móveis que existiu até 1964. É revelador observar que naqueles dez anos, segundo suas próprias palavras, o desenho industrial desempenhou um papel tão importante na sua vida que o afastou da pintura. Aliás, sua necessidade de atuação em conjunto é comprovada pelas diversas associações das quais participou: em 1945 filiou-se ao Sindicato dos Artístas Plásticos e à Associação Paulista de Belas Artes; em 1947 ao Grupo 15; em 1952 ao Ruptura detonador do Movimento de Arte Concreta em São Paulo e, em 1966, ao Grupo Rex Time, que apresentou os primeiros happenings em São Paulo, com Nelson Leirner e Wesley Duke Lee.

Na área de design e artes gráficas fundou, com Alexandre Wollner e Rubens Martins, em 1959, o grupo Form Iform para desenho industrial e comunicação visual e em 1964, com Aluísio Bione, a Hobjeto Indústria de Móveis. Produziu importantes cartazes, como o vencedor para o IV Centenário da Cidade de São Paulo e, nos anos setenta, uma série de out doors influenciados pela Pop Art e pela Nova Figuração, estilos em voga naquele momento, numa proposta de interlocução direta com a população da cidade. A partir dos anos 70 retomou a sua proposta inicial de relacionar formas no espaço em busca de ritmo, contraponto e harmonia, dentro do estilo geometrizante proposto pela Arte Concreta, usando a fórmica como suporte, o que permite a reprodução da obra em grande número.

Os desenhos que produziu entre 1947 e 51 são intimistas por serem de pequenas proporções. Aqui Geraldo de Barros explora a magia do traço que corre sobre o papel, compondo figuras e cenas que formalizam experiências de luz e sombra, ritmo e criação de movimento. Naquele momento os desenhos, provavelmente, representaram para o artista exercícios de "aquecimento". Ainda assim, resultaram em pequenos poemas visuais.

Formação

Nasceu em Xavantes (SP) em 1923 e em 1945 iniciou seus estudos em artes plásticas com Clovis Graciano e no ano seguinte com Colette Pujol. Em 1947 estudou com Yoshiya Takaoka e Takeshi Suzuki, executando trabalhos figurativos de tendência expressiva. Conheceu, nessa época, através de livros, os trabalhos de Klee e Kandinsky, bem como os fundamentos da Bauhaus e do desenho industrial.
Desde 1946 faz pesquisas em fotografia e gravura. Em 1949 organizou o laboratório fotográfico do Museu de Arte de São Paulo (MASP), onde pôde também preparar a exposição, hoje antológica, Fotoformas. Nos trabalhos então apresentados não se distingue a fotografia da gravura e do desenho. Os negativos são sobrepostos, recortados, pintados com nanquim ou ponta seca e até perfurados, ampliando assim os limites do suporte. Por esses trabalhos, Geraldo de Barros é considerado um dos responsáveis pela fotografia moderna brasileira. Com ele a fotografia deixou de ser apenas uma forma de representação e tornou-se uma linguagem artística.
Em Paris (1951), graças a uma bolsa de estudos do governo francês, frequentou a Escola de Belas Artes, onde estudou litografia e interessou-se por design gráfico. Estudou gravura no famoso atelier-escola de Stanley Hayter. Conheceu importantes figuras do mundo artístico parisiense, como o pintor Giorgio Morandi e o fotógrafo Cartier-Bresson. Em viagem à Suíça conheceu Max Bill, cujos textos teóricos sobre arte e a função social do artista influenciaram, decididamente, o rumo do movimento de Arte Concreta brasileira.
Geraldo de Barros faleceu em São Paulo no dia 17 de abril de 1998.

Gabriela S. Wilder


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