Vários estudiosos do Modernismo Brasileiro, tais como Ronaldo Brito, Annateresa Fabris, Tadeu Chiarelli entre outros, escrevem sobre a necessidade de se rever a história do "Modernismo de 22", ou seja, rever a história escrita pelos protagonistas do Movimento.

No livro de Tadeu Chiarelli, Um Jeca nos Vernissages, São Paulo: Edusp, 1995, o autor apresenta um outro ponto de vista do famoso episódio - Anita Malfatti x Monteiro Lobato.
Como se sabe, em 20.12.1917, Monteiro Lobato publicou no Jornal O Estado de São Paulo o texto A propósito da exposição de Malfatti, sobre a exposição da artista com 53 trabalhos dela e outros de três artistas, seus colegas. Nesse texto, o autor faz consideráveis críticas às pinturas expostas e se posiciona contrário as inovações plásticas apresentadas. Dois anos depois, quando o texto é republicado, os modernistas Menotti Del Pichia e Mário de Andrade escrevem em defesa de Malfatti e afirmam que as críticas de Lobato teriam causado tal impacto na artista que esta passaria a apresentar um retrocesso no seu percurso poético-visual expressionista.

É a revisão desse fato e de outros aspectos da história que é proposto por Chiarelli (1995). Ele sugere que se revejam as pinturas da artista antes da
publicação do tal artigo, e defende a tese de que a artista, ao retornar ao Brasil, encontra aqui um ambiente anterior àquele das vanguardas que ela deixara na Europa, fato que, entre outros, afetará sua produção. Conforme Chiarelli (1995, p. 21):

"... Retornando a São Paulo em 1914, no mesmo ano Malfatti embarcou para Nova York. Ali intensificou seu interesse pelo Expressionismo, pintando retratos e paisagens onde já se percebia o início da construção de uma poética singular, vinculada de forma intensa às proposições da modernidade no campo da pintura. Porém, ao retornar a São Paulo em agosto de 1916, percebe-se uma significativa mudança em seu direcionamento. Se até então sua produção se caracterizava não apenas pela expressividade, mas sobretudo por um perfeito entendimento da autonomia da pintura em relação ao assunto retratado, de volta ao Brasil nota-se que passa a dar destaque ao tema de suas pinturas, um destaque aliado a um tratamento menos intenso e mais convencional do plano pictórico. Se forem analisados os títulos de algumas das telas que produziu entre agosto de 1916 e dezembro de 1917, percebe-se que a artista escolheu um tema determinado para tratar: o Brasil ou a paisagem física e humana do país. Pinturas como A Palmeira, Rancho de Sapé, Capanga, Caboclinha, O Saci - hoje desaparecidas - e Tropical - pertencente ao acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo - atestam que Malfatti, ao contrário das pinturas que realizou em Nova York, não parecia mais preocupada com as questões intrínsecas do campo plástico, que a fizeram realizar obras como O Homem Amarelo e Mulher de Cabelos Verdes - pintadas entre 1915-1916. Nessas o tema, em lugar das figuras retratadas, era o complexo sistema de cor e linhas usado em cada composição.
        
A crítica de Lobato foi republicada em 1919 no livro Idéias de Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, com o título Paranóia ou Mistificação?, que você pode ler clicando AQUI.

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